sexta-feira, 8 de junho de 2012

Conhecendo-se

– Como raios me foi meter nisto? _ Perguntava-se Victoria entrando no átrio do centro comercial.
Agora sóbria nada daquilo parecia boa ideia. Provavelmente era uma brincadeira para ver quantos caiam. E ela que se gabava da sua inteligência e Racionalidade estava ali, a caminho da boca do lobo, por causa do palpite da “bruxa” da Mikaela. Naquela manhã o ‘’Senhor D” como o tinha carinhosamente chamado, mando-lhe outra mensagem com a hora.
Incomodada sobe as escadas rolantes, até a praça de alimentação, e senta-se numa das mesas do quiosque de café, e recebe uma mensagem do senhor D.
“ Já chegaste?
D. “
Victoria olhava o ecrã do telemóvel com o sobrolho franzido. Perguntava-se se respondia ou não. “Tenho apenas um bom pressentimento” a voz de Mikaela ecoa no seu subconsciente e ela raramente estava errada.
“Estou ao pé do quiosque da Sical” Antes que pudesse perceber já tinha carregado no botão de enviar.
- Merda. _ Sussurra recriminando-se.
– Olá. _ Duarte não era do tipo de marcar encontros, a não ser que fosse “ Encontra-me na casa de banho daqui a 10 min “, mas esta situação estava longe de ser isso.
A difícil, interessante, quente e linda menina mulher que lhe deu volta á cabeça, não podia desaparecer. Não antes de poder desvendar cada um dos seus mistérios.
– Olá. _ Victoria, ao ouvir a profunda, agradável e masculina voz sentiu as suas hormonas fazerem-na acender como uma árvore de natal.
Todo ele era perfeição, alto, pelo menos 1.90, de cabelos escuros num corte moderno e um físico invejável e para completar, uns olhos azuis-escuros inteligentes e misteriosos.
– Posso-me sentar? _ Pergunta Duarte mostrando o maravilhoso sorriso.
– Hum? _ Depois de ter dito isso Victoria desejou com todas as suas forças que o chão se abrisse aos seus pés.
– Se me posso sentar. _ Duarte dá um sorriso divertido fazendo com que Victoria desejasse com mais força que o chão se abrisse.
– Claro. _ Responde com um sorriso afectado e indicando a cadeira à sua frente.
Depois de Duarte se sentar, instalasse um silêncio desconfortável na pequena mesa.
– Então… como te chamas? _ A pergunta apanha Victoria de surpresa.
Era verdade, nas poucas mensagens que trocaram e na boate, ela nunca lhe disse o nome dela e dele só sabia a sua inicial.
– Sou… _ Hesita, mas a voz de Mikaela fez-se presente na sua cabeça e ela manda os receios ir dar uma volta. – Chamo-me Victoria.
–Victoria. _ A maneira como o nome ressoou na cabeça de Duarte, era o pecado capital. Sentiu um puxão na sua virilha, tinha de ter cuidado, ficar assim agora não vinha nada a calhar. Tinha de se focar noutra coisa.
– Prazer Victoria, Duarte Faria. _ Diz esticando a mão para ela. A voz de Duarte ainda estava afectada e ao dizer o nome de Victoria naquele profundo tom rouco e masculino, fê-la arrepiar até ao último fio de cabelo.
–Prazer. _ Victoria retribui o comprimento, ao apertar a sua mão sente como se um choque a atravessa-se da palma da sua mão até ao seu ventre.
– Então Duarte. _ Victoria diz o seu nome como se saboreasse. – Que idade tens?
Faço 19. Tu?
–18 Mês passado. _ Volta a ficar um silêncio desagradável.
– Queres tomar um café enquanto falamos? _ Duarte pergunta olhando para o quiosque.
– Sim, um café era bom. _ Levantam-se os dois mas Duarte pára-a.
– Não te levantes. Eu vou buscar.
– Ok. _ Enquanto Duarte se dirigia ao quiosque, Victoria tentava firmar os pés na terra.
“Ele veio”, gritava na sua cabeça, era simpático e muito bom de olhar. Victoria enumerava as qualidades de Duarte com um apatetado sorriso na cara.
–O que é tão divertido? _ Victoria dá um salto da cadeira quase a fazendo virar. – O quê?
– Perguntei o que era tão divertido. _ Duarte responde com um sorriso pondo a pequena bandeja vermelha sobre a mesa.
Depois deste mico Victoria queria desaparecer e nunca mais voltar… México parecia um bom lugar.
–Bem…_ Victoria tira uma das chávenas do tabuleiro vermelho.
–Eu sei que és o Duarte e tens 19 anos. _ Diz Victoria dando um pequeno gole na sua bica. – Posso perguntar o que fazes ou seria ser demasiado curiosa? _ Pergunta Victoria olhando-o nos olhos por cima da pequena chávena.
– Façamos um jogo então. _ Propõem Duarte. – Pergunta e Resposta, que dizes?
–Parece bem. _ Responde Victoria com um sorriso terminando o café. – Eu já fiz a minha, cabe-te a ti responder.
– Não, tu não serias curiosa em perguntar o que faço da minha vida. _ Duarte, subitamente fica tenso e no fundo do seu ser perguntava-se o que lhe responder. Não lhe podia dizer o que fazia realmente, ela correria dali aos gritos.
–Deixa-me reformular a pergunta. _ Victoria ia perguntar outra vez quando Duarte a interrompe. – É a minha vez de perguntar. _ Duarte tenta mudar o rumo a conversa.
–Vives sozinha?
– Não. _ Tendo notado o desconforto de Duarte, Victoria decide esperar para fazer a pergunta novamente. – Qual é o teu prato preferido?
– Hum…Pizza. _ Ele tinha de pensar. Que tipo de emprego faz com que se esteja longos períodos fora de casa? _ Cor preferida?
– Vermelho. _ Responde Victoria olhando para a janela panorâmica do cento comercial de onde dava para ver o parque da paz. – Tens irmãos?
–Bem… De sangue, tenho um mais novo, e depois vivo com mais três que são tão chatos como se fossem meus irmãos. _ Ele tinha de pensar depressa. – E tu, com quem vives?
– Com a minha irmã mais nova e três amigas que estão mais para minhas irmãs. _ Victoria respondia dispersa. Estava um dia tão bonito e ela no centro comercial.
–Vou quebrar as regas. _ Duarte repara no interesse de Victoria pelo parque e decide levar a conversa lá para fora. – Que me dizes de sairmos daqui?
– Desculpa? _ Victoria olha-o confusa. – Ir aonde?
– Lá para fora apreciar o dia maravilhoso que esta. _ Duarte sorri-lhe e levanta-se e pega-lhe na mão. – Vamos?
Victoria olha-o durante uns momentos hesitante. Bem já tinha chegado até aqui, porque pensar mais?
– Claro. _ Responde-lhe com um sorriso radiante. Mesmo não sendo a pessoa mais activa do mundo, não era capaz de ficar fechada naquele edifício de ar reciclado quando estava um dia de verão daqueles.
– Agora por onde vamos? _ Pergunta Duarte fora do shopping olhando para os lados.
Victoria olha para ele levantando a sobrancelha. – Somos da margem norte * por acaso?
– Pode-se dizer que sim. _ Duarte dá um sorriso envergonhado. – Há muito tempo que não estou em Almada.
– Serio? Há quanto? _ Pergunta Victoria. – Para não te saberes situar para chegar ao parque da paz, já lá vai algum tempo.
– Sim algum, tipo… 17 anos. _ Duarte solta uma gargalhada mal contida, vendo a cara a de espanto de Victoria.
– Onde viveste desde que saíste da margem sul?
– Nova York… _ Duarte olha para Victoria de esgueira.
– Pais imigraram? _ Pergunta Victoria.
– Yah…
Chegaram a entrada do parque que fervilhava de vida. Era possível ver famílias a fazer piqueniques, desportistas a treinar e várias pessoas espalhadas pelas sombras do enorme carvalho no centro ou perto do lago onde se podia dar de comer aos patos.
– Isto é muito bonito. _ Comenta Duarte olhando em volta.
– Era mesmo isto que eu estava a precisar. _ Victoria tinha fechado os olhos e aproveitava o sol que se fazia sentir. – É nestes momentos que sinto que o Verão realmente chegou.
Ficaram os dois a apreciar a paisagem sentados no muro que rodeava o parque, e notam que ainda estavam de mãos dadas.
Depois de largarem as mãos fica uma atmosfera de constrangimento no ar, Victoria tinha ficado algo desiludida de o largar, quando de súbito levanta-se e olha para Duarte com um ar traquina.
– Sabes uma coisa? _ Pergunta Victoria tão perto de Duarte que ele podia sentir o seu hálito de aroma a café e ver como os seus dentes eram direitos.
– Ainda não me disseste. _ Responde chegando-se mais perto para poder capturar-lhe os lábios.
– NÃO ME APANHAS. _ Grita Victoria começando a correr.
– Mas que… _ Duarte ainda demorou uns segundos mas assim que a informação chegou… Não se fez de rogado.
Para quem olha-se, pareciam duas crianças a jogar à apanhada. Victoria era rápida mas Duarte era mais, e quando deram por isso estavam os dois a rebolar pela relva sendo que Duarte ficou por cima com uma Victoria que gargalhava debaixo de si.
Estava linda, corada da corrida, com a pele brilhante por uma pequena camada de suor e um sorriso que o fazia querer que ela sempre estive-se assim. Dando-lhe um beijo na testa, Duarte sai de cima de Victoria e sentam-se os dois à sombra do grande carvalho.
Ainda a recuperar o folego, e rindo um bocado Duarte nota uma coisa interessante nas costas de Victoria.
– Tens uma tatuagem? _ Pergunta esforçando-se para ver o desenho que estava escondido pela roupa entre as omoplatas.
– Sim. _ Responde tocando nas costas. _ Porquê? Incomoda-te?
– Nem um pouco. _ Duarte levanta a t-shirt e mostra uma tatuagem tribal que decorava todo o seu lado esquerdo.
– A quanto tempo a fizeste? _ Pergunta Victoria tentado olhar para a tatuagem e não para o tanque que ela cobria parcialmente.
–Vai fazer três anos, fi-la quando tinha dezassete. _ Duarte gostava que ela o olhasse. Queria ser o único a fazê-la sorrir, corar, amar, seduzir…. Ele queria-a por inteiro.
– Tem algum significado especial? _ A pergunta de Victoria fá-lo parar de sonhar acordado.
– Sim, é feita quando um rapaz é considerado um homem e guerreiro.
– Hum…
– Mostrei-te a minha, tens de me mostrar a tua. _ Diz Duarte baixando a T-shirt para infortúnio de Victoria.
– Esta bem._ Victoria vira-se de costas. – Vais ter de me ajudar puxando o vestido para baixo.
– Ok. _ Agora ela mostrar-lhe a tatuagem não parecia tão boa ideia. O seu desprotegido pescoço era uma tentação.
Com muito esforço e autocontrole Duarte faz aparecer a tatu de Victoria.
Era uma árvore Celta.
– Muito Bonita e feminina também. – Enquanto fala Duarte contorna a tatuagem com os dedos fazendo Victoria arrepiar-se. – Porquê uma árvore celta?
– Pelo que significa para mim. _ Os dedos quentes e a respiração dele na sua nuca, faziam com que o seu coração dispara-se e as famosas borboletas no estômago se revelassem.
– Ah sim? _ As pontas dos dedos, que faziam os contornos da tatuagem, agora eram acompanhadas por beijos na nuca e uma voz sussurrada no ouvido de Victoria. – E o que significa para ti?
– O facto de ser um círculo lembra que tudo está ligado e… _ Duarte tinha-lhe dado uma pequena dentada no pescoço fazendo-a deixar escapar um gemido mal contido.
–E… _ Insiste Duarte, adorando o facto de Victoria estar tão entregue a ele.
– E… e os ramos que se estendem para o céu, como se para alcançar o futuro, e as raízes, que nos fazem lembrar que sem passado não há futuro, pois são as coisas boas e as más que faz de nos quem somos.
–Hum. _ Victoria só notou que estava entre as pernas de Duarte quando ele a abraça e a faz encostar as suas costas ao seu muito musculado peito. – Tens uma visão muito… abrangente das coisas. – Quase filosófica.
– É normal, estudei filosofia na universidade juntamente com história e consultoria financeira. _ Victoria estava tão embevecida pelo corpo colado as suas costas que nem percebeu o que disse.
– Vais fazer esses cursos todos? _ Duarte pensava que ela estava tão mole que já não dizia coisa com coisa. Mas bastou ele fazer a sua pergunta para sentir a súbita tensão apoderar-se de Victoria.
– Não. _ Responde Victoria com pesar desfazendo o abraço e olhando-o nos olhos. – Eu não os vou fazer.
Então… _ Duarte é interrompido por dois dedos sobre os seus lábios. – Eu não os vou fazer, porque eu já os fiz.
– Como? _ Duarte estava confuso.
– Já alguma vez ouviste falar da organização não-governamental Filipa Dowet?
– Sim, há um centro em Nova York. _ Responde Duarte olhando para a agora encolhida menina à sua frente. Era como se aquela mulher confiante nunca tivesse existido.
– Sabes para que é que existe? _ Pergunta Victoria brincando com a barra do seu vestido.
– Para apoiar, estimular e ajudar crianças e jovem com muito talento. _ Responde. Então fez-se luz. – Tu pertences ou pertenceste a organização mas não como funcionaria, não é?
– Deveriam fazer-te um teste a ti. Com certeza que terias uma escala muito alta. _ Diz Victoria tentando fazer uma piada.
– Quando acabaste a universidade? _ Duarte não tirava os olhos dela.
– Este ano, mas já estou a trabalhar desde do meio do ano passado.
– Acabaste de fazer dezoito, certo?
– Sim. _ Responde Victoria com a voz embaçada.
– Com que idade começas-te o secundário?
– Com 12, e entrei na faculdade com 15.
Duarte fecha os olhos e suspira. Tinha encontrado. A sua companheira estava à sua frente, sabia-o desde que a viu na boate. Bonita, enigmática, e ao que parece muitíssimo inteligente. Tinha-lhe saído a sorte grande, só esperava ser merecedor de tal bênção.
Um ruído fez com que Duarte abrisse os olhos.
Ela estava-se a ir embora, estava longe o suficiente que para a alcançar tivesse de dar uma pequena corrida.
– Espera, Victoria, espera. _ Chamava Duarte alcançando-a. – Que se passa? _ Ao puxa-la para que se virasse para ele, vê que têm o rosto lavado em lágrimas.
– PROMETO QUE NUNCA MAIS ME VAIS VER. JURO. _ Grita tentando fazê-lo largá-la.
– Mas porque que não te quereria ver? _ Perguntando-se o que poderia ter dito para que ela estivesse assim. Duarte lutava contra o desespero que se queria apoderar dele.
– Primeiro dizem que é muito giro, depois torna-se frustrante e por último qualquer desculpa é razão para desaparecer e nunca mais voltar. _ Diz Victoria entre soluços. _ É sempre assim. São todos assim.
– Não és assim tão esperta. _ Dispara Duarte, Chamando a atenção de Victoria ao ponto de a fazer parar de chorar.
– Desculpa? _ Pergunta Victoria indignada. Ele acaba de duvidar da sua inteligência?
– Tua ainda não percebeste, que eu não sou como os outros? _ Dizendo isso Duarte dá-lhe um beijo apaixonado.


 * Em Portugal, Lisboa e Almada estão separadas pelo rio Tejo sendo que Almada esta a Sul. Todo pertencente abaixo do Tejo é a "Margem Sul".

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